domingo, 3 de fevereiro de 2013

Entrevista com o Vampiro – Anne Rice

Vampiros. Hoje em dia é difícil falar sobre eles, com essa rixa não declarada entre aqueles que defendem o bom e antigo vampiro mau e impiedoso e aqueles que amam os novos vampiros bonzinhos e apaixonados. O que eu posso dizer é que Entrevista com Vampiro paira acima dessa querela sobre os pobres coitados que nem existem, porque a Anne Rice é a mãe das histórias vampirescas. Seus livros já estavam cansados de serem lidos antes que surgissem Blades, Edwards, Angels, Jerrys, Stefan e Damon Salvatore e Bills Compton. Portanto, vamos lá.


O livro trata do triângulo vampiresco formado por Lestat, Louis e Cláudia. O vampiro Lestat, transforma o humano Louis em vampiro e ambos transformam a menina Cláudia com apenas 5 anos. A história gira em torno da incapacidade de Louis em aceitar sua nova natureza, e assumir com paixão a necessidade de matar seres humanos para viver. Lestat é o exato oposto: se compraz na maldade, e mata não só por necessidade como por prazer. Cláudia a “filha” dos dois é um amálgama de ambos, mata sem culpa, mas assim como Louis procura por algo a mais. Eles acabam por encontrar outros da sua espécie no Teatro de Vampiros em Paris, e a partir do encontro com Armand e os outros a narrativa toma um fim trágico. A história é contada em forma de relato do vampiro Louis ao repórter que ele convida para ouvir/registrar suas experiências.

A verdade é que Louis não consegue abandonar seu lado humano, e conseqüentemente ao manter a crença inferno x céu; Deus x Diabo e pecado x graça não consegue aceitar quem ele é: um assassino. Não pode viver sem matar, mas matando não vive em paz. Que dilema, hein rapaz? O pior, é que ignorando a existência de outros da sua espécie, Louis tem em Lestat – seu “pai” criador – única referência vampiresca. E Lestat é o que podemos apelidar de vilão-mor. O vampiro é mau, sádico e ganancioso. Entendendo que Louis precisa de outra companhia que não a sua, ele encoraja Louis a transformar a pequena Cláudia em vampira – aprisionando a coitada para sempre em um corpo de criança.  

Atenção, os trechos abaixo contém vááários spoilers:


Apesar de tudo os três conseguem conviver bem durante várias décadas. Até quando Cláudia percebe que apesar de amadurecer mentalmente continua presa à um corpo de criança. Com raiva por ter sido Lestat quem a transformou em vampira ela decide matá-lo, e consegue. Ela e Louis jogam o corpo no pântano e decidem ir para a Europa procurar outros vampiros. Nisso Lestat reaparece, eles ateiam fogo na casa e saem fugidos, sem saber se Lestat morreu ou não. Se aventurando por países do mediterrâneo eles descobrem vampiros grotescos, quase animalescos até chegarem à Paris onde finalmente conhecem o Teatro dos Vampiros e seus refinados “atores”. Louis se apaixona pelo vampiro Armand – uma espécie de líder do clã. Cláudia se sentindo ameaçada pela iminente perda de Louis pede que ele transforme a jovem chamada Madeleine para que lhe faça companhia. Pedido que ele concede com bastante sofreguidão. O problema é que o clã desconfia que Louis e Cláudia mataram o seu criador, crime esse que deve se vingado com  pena de morte. Quando enfim Lestat aparece para se vingar de Cláudia, os vampiros resgatam os três e matam Cláudia e Madeleine. Louis é salvo por Armand. Consumido pelo desejo de vingança, Louis coloca fogo no teatro e mata  todos os vampiros. A partir de então, vai viver com Armand. Conforme o tempo passa Louis descobre que nada mais irá aprender com ele, e ambos se separam. Louis volta então para New Orleans, onde encontra Lestat definhando em uma casa caindo aos pedaços. FIM da história. Se você fosse o repórter o que faria depois de ouvir todo esse relato? No mínimo eu sairia voada dali, porque tantas horas contando uma história deve ter deixado o vampiro com fome. Coisa nenhuma, o maluco do cara quer ser transformado em vampiro também, e a coisa termina assim, sem você ter certeza se rolou ou não. FIM DE VERDADE.

Bem, deu pra sentir que eu fiquei um pouco decepcionada com o livro. Eu simplesmente adorei o filme e não conseguia parar de ver os rostinhos do Tom Cruise, do Brad Pitt e da Kirsten Dunst enquanto avançava pelas páginas. Acabei ficando triste ao constatar que esse livro caiu na minha lista de raridades: geralmente os livros que são adaptados para o cinema são bem melhores que os próprios filmes e não o contrário. Só que dessa vez não. Infelizmente esse livro é a segunda raridade na minha lista, a primeira foi Clube da Luta – o livro é uma droga. Caramba! Pensando agora, será que a culpa é do Brad Pitt? Basta o xuxu aparecer que o filme fica melhor?

Mas nós, lindos leitores sabemos que mesmo do pior livro é possível tirar algo de bom. Esse me fez pensar sobre a busca pelo significado da vida que atormenta a quase todos. O livro acabou se tornando uma metáfora vampiresca para incapacidade humana de amar a si própria e abraçar seu destino, da influência do meio sobre quem somos, do perigo em responsabilizar os outros pela nossa felicidade ou tristeza e da eterna falta de conformidade com a brutalidade da existência O desencadeamento desses sentimentos aparece na personagem de Louis da seguinte forma:

Louis é infeliz como ser humano por se responsabilizar pela morte do irmão à Por esse motivo, Louis acaba seduzido por Lestat, que o transforma em vampiro à Depois que Louis descobre que levará uma vida eterna matando pessoas para se alimentar e que esse é o único prazer profundo que um vampiro pode sentir, ele passa a odiar o que é à Dessa maneira, ele passa a odiar Lestat por assumir esse destino com tanta facilidade e por ser sua única referência à Ele parte em busca de outros vampiros acreditando que eles possam  conceder algum  significado para a sua vida à Ele encontra vampiros piores do que Lestat à Ele se apaixona por Armand, porque pensa encontrar nele a salvação à Ele se decepciona novamente.

Ou seja, Louis nunca é feliz, porque antes de tudo não consegue aceitar quem é. Quando você não se ama a vida perde completamente o significado. Acreditar que outras pessoas podem lhe restaurar isso é o segundo erro que podemos cometer. As pessoas irão te influenciar para o mal e para o bem, mas elas nunca serão responsáveis pelo seu destino. Para mim o repórter funciona como o psicólogo. A figura que ouve sempre calada, fala pouco, mas te permite avaliar a própria vida pela mera repetição de si para si. É foi basicamente isso. 

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