segunda-feira, 1 de julho de 2013

O lexical-poder de persuasão



"O orifício anular corrugado localizado na parte inferior lombar da região glútea de um individuo em alto grau etílico, deixa de estar em consonância com os ditames referentes aos inalienáveis direitos individuais de propriedade."

Obviamente que eu discordo do ditado: "c* de bêbado não tem dono", afinal jamais se deve abusar física ou verbalmente de outro individuo, especialmente aqueles em  situação de vulnerabilidade. Brincadeiras (sem-graça) à parte, suscitei esse cartaz, para ilustrar como pode ser forte o poder de reforço/convencimento do léxico de nossa querida língua. A utilização de uma linguagem extremamente formal, pode muitas vezes mascarar a verdadeira natureza do discurso, promovendo um processo de "embelezamento" e seriedade - que nem sempre existe. Na fala coloquial é o que poderíamos chamar de "falar bonito", "floreio" ou "enchimento de linguiça". Essa técnica costuma ser muito utilizada pelos políticos em suas campanhas, se aproveitando da escassa educação do povo ou da simples falta de familiaridade que temos com esse tipo de linguagem. Dessa forma, eles enchem com beleza lexical um discurso vazio de ideologias - ludibriando seus eleitores em época de eleição.


O léxico pode ser compreendido como o acervo de palavras de uma determinada língua e o  vocabulário como a seleção e emprego pessoal que se faz desse léxico. Os usuários da língua tem a sua disposição, portanto um conjunto de palavras para efetivar o processo comunicativo. E pode-se dizer que quanto maior é o seu vocabulário, maior será a sua desenvoltura lexical e consequentemente a sua capacidade de expressão - e porque não de persuasão?


Não quero dizer com isso que é errado ou desonesto utilizar um bom português. A nossa língua é de uma riqueza e beleza imensas, que devem ser aproveitadas. O português formal deve ser bem ensinado e aprendido nas escolas e ainda que não o utilizemos no dia-a-dia - isso não retira a sua importância. O que intentei demonstrar com esse texto, é que nem sempre a linguagem formal é honesta, e nem sempre quem fala "bonito" é por isso mais inteligente ou mais capaz. Já vi transbordar sabedoria de bocas que mal saberiam soletrar uma palavra ou compor um texto conciso. E mais tristemente, já vi brotar muita falácia, hipocrisia e preconceito, de mentes mestradas, doutoradas e pós-doutoradas.


Isso existe porque existe a linguagem e educação formais, que são fundamentadas em regras e preceitos para seu correto aproveitamento. Mas existe também a linguagem coloquial e educação informal. Essas duas últimas, dificilmente podem ser ensinadas na escola, seu aprendizado é diário, cotidiano, e suas lições acabam sendo tão ou mais valiosas que as da primeira. Pois, ao contrário, a sua evolução não depende de recursos monetários, mas apenas de interesse, observação e vontade de aprender.


Portanto, lembrem-se bem: nem sempre aquele que se expressa melhor, se expressa com mais verdade. E se vocês virem alguém tentando lhes convencer ou vender algo utilizando uma linguagem rebuscada, desconfiem, estejam conscientes do lexical-poder de persuasão! 

Carlos Drummond de Andrade


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