segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Chavela Vargas

Fonte: facebookofsomebody

"Eu sempre soube. Não há ninguém que aguente a liberdade alheia; ninguém gosta de viver com uma pessoa livre. Se você é livre, esse é o preço que tem que pagar: a solidão."

sábado, 25 de agosto de 2012

Sylvia Plath

Eu fecho meus olhos e todo o mundo cai morto;
Eu ergo os meus olhos e tudo nasce novamente. 
     
"Beije-me e você verá o quão importante eu sou."


"Nada fede como uma pilha de escrita não publicada"
                                                    





Pequenas Papoulas, pequenas chamas do inferno
Vocês fazem algum mal?
Você cintila. Eu não posso tocá-la.
Eu ponho minha mão entre as chamas.
Nada queima.

E isso me exauri, olhar você
Cintilando assim, enrugada e vermelho claro,
como a pele de uma boca.

Uma boca sangrenta
Pequenas saias sangrentas.
Há fumaças que eu não posso tocar
Onde estão os seus opiáceos, suas cápsulas enauseantes?
Se eu pudesse sangrar, ou dormir----
Se minha boca pudesse se casar com uma dor assim
Ou seus licores me filtrassem, nessa cápsula de vidro
Vaga e calmamente
Mas sem cor. Sem cor.

Até hoje só tive a oportunidade de ler o livro A Redoma de Vidro (The Bell Jar) dessa autora. E gostei muito. Ela é mulher escrevendo, você sente a feminilidade e a força produzindo algo belo e assustador. Sei que a vida da escritora não foi muito fácil, acredito que ela foi um pouco atormentada. Mas na literatura parece ser uma regra: escritores atormentados, leitores deliciados. Um pouco da história da autora que peguei no site http://www.culturapara.art.br:

Sylvia Plath nasceu em Boston, EUA, em 1932. Teve uma passagem melancólica por Nova York, tentou o suicídio por mais de uma vez, casou em 1956 com o poeta inglês Ted Hughes, foi com ele para  Cambridge, Inglaterra. Teve dois filhos. Descasou em 1962, escreveu seus poemas capitais, publicados postumamente no volumeAriel (1965), sua obra mais importante. Dois anos antes, em 1960, lançara o seu primeiro livro, Colossus. Em 11 de fevereiro de 1963, Sylvia Plath aos 30 anos de idade cometia suicídio inspirando gás na cozinha de sua residência.

Paulo Leminski

Fonte: <facebookofsomebody>

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Os Ombros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação. 
                                                                          Carlos Drummond de Andrade


Os versos acima foram publicados originalmente no livro "Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940.  Foram extraídos do livro "Nova Reunião", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1985, pág. 78.<Fonte:www.releituras.com>


domingo, 19 de agosto de 2012

Coisas da terra - Ariana Mendonça



 Meus pais há muito me contaram do sítio que uma vez tiveram, em Sambaetiba. Hoje me peguei pensando o quanto a minha vida seria diferente se eu não tivesse crescido na cidade. Apesar de ser um pensamento antigo, essas reflexões vieram à tona no dia de hoje em ocasião do meu pai ter trazido para casa um pé de aipim recém-saído da terra. Ele me chamou todo entusiasmado, como quem porta uma inovação. Para mim é. Embora esse tipo de coisa me pareça familiar, como se já vivenciado em vidas passadas, sou forçada a admitir que não tenho nenhuma intimidade com as coisas da terra.


Debulhar aquele pé de aipim para tirar cada aipim propriamente dito, exigiu muita força até eu entender que tem haver com jeito (essas coisas sempre tem a ver com o jeito), com a intimidade do fazer. E meu pai foi me dando uma mini-aula de como se replanta e se colhe  e como se vive no mato. Ele me disse que esses 10 aipins levaram seis meses para crescer. Eu ri. E perguntei quanto tempo a gente levaria para comer. Ele desconversou. Mas depois admitiu que em quatro dias fora da terra, eles já começariam a perecer. Eu admito para ele que acho muito difícil conseguir se alimentar só com o que se planta. Digo que deve demandar um grande pedaço de terra. Ele que diz que não. Abarca nosso pequeno quintal com as mãos e diz que em um pedaço de terra como esse já dava para viver, plantando aqui um tomate, acolá um milho, mais pra lá uns aipins. Eu digo que não. Duvido. Afirmo que teríamos que ter ao menos uma vaca. E a conversa prossegue assim. Nessa nossa paixão pelas coisas da terra. 



Esse momento traz à tona a velha sensação que possuo, de que teria sido mais feliz vivendo naquele sítio, caso eles não o tivessem vendido quando perderam tudo lá em meados dos anos 90. Sei que seria mais sábia e talvez mais paciente vivendo por lá. Porque aceito com mais humildade as coisas da natureza. As coisas dos homens não. Porque sei que para aprender sobre a natureza demanda tempo e entrega. As coisas do homem, não necessariamente. Não dá para saber que a laranja nasce a partir de um enxerto feito do limão se alguém não te ensina isso, ou sem ao menos ver alguém fazendo. Contudo, deixe uma criança com internet à vontade e você verá em pouco tempo ela te ensinando coisas. Afinal, qual é a criança que não está nos ensinando sobre tecnologia nos dias de hoje? Saídas do berço e ensinado aos mais velhos. No campo, o avô ensina tudo ao netinho. E o netinho aprende, é a ordem natural das coisas. Na cidade, o netinho tenta sem paciência ensinar sobre tecnologia ao avô, que finge que aprende. Ou porque sente que já não é mais tão idade de aprender ser ensinado, mas principalmente, porque a revolução tecnológica veio de maneira tão abrupta que é difícil assimilar tanta coisa em tão pouco tempo.


Muitos me dizem que sou saudosista demais, retrô em demasia. Que acredito demais na verdade do passado. Mas ouça, eu não quero convencer ninguém, ou sequer levantar uma bandeira. Sei também que o passado não foi perfeito. Nenhuma época foi. Ou será. É apenas que parece certo demais para mim, o modo de viver do passado: a relação familiar, os objetos, as roupas, o modo de conviver, o modo como o tempo (não) passava. O abraço da avó, os cinco irmãos, o pé na terra, a igreja no domingo, duas mãos tímidas se enlaçando, o lampião a gás, a rede, o bolo de fubá, dormir quando o Sol se punha, acordar quando ele nascia, a ausência da pressa, não ter medo de sair de casa. Não quero dizer com isso que a maneira como vivemos hoje não seja boa. Que ela não tenha suas vantagens. Família pequena (não ter que dividir), tênis de marca, estado laico, o primeiro beijo não mais assusta (a televisão/internet nos ensinou tudo sobre sexo), eletricidade, computador, automóvel, celular, cama king size, fast food, slow food, junk food, dormir de dia, acordar de noite, filho mandando nos pais. Não é que todas essas coisas não sejam divertidas, práticas e úteis. A questão é que elas não me parecem corretas. Boas, mas não corretas. Parecem um tanto descoladas da sintonia geral do meu mundo. E principalmente da natureza.

Penso por exemplo, que o avô ensinando ao neto confere utilidade a vida do avô, serventia a sua sabedoria. A criança ávida e receptiva como é, nos primeiros anos de vida, apreende as palavras do adulto e dá prosseguimento aos costumes e tradições. O avô pelo seu lado se sente útil e continua ativo, pois tem muito que ensinar aos seus pupilos. É o que sempre se nota no campo: um senso de utilidade estampado na testa dos mais velhos, o semblante de quem assume a missão de zelar e orientar quem viveu menos. Não é a toa que vemos distintos senhores nos altos dos seus 75 anos montando à cavalo, como  bem me lembro fazia o avô de um grande amigo meu, a quem tive o prazer de conhecer, quando juntos viajamos para Trajano de Morais. A avó escutava música clássica e o avô montava a cavalo. Nunca hei de esquecer essa atitude descolada do casal. Nada parecida com a dos avôs da cidade. Bem sei, nada parecida.

Afinal eu imagino como deve ser difícil viver toda uma vida para chegar aos seus 70,80,90 anos e sentir que seus costumes são ultrapassados, que não há nada a ensinar. Sendo, ao contrário, forçado a aprender todos os novos costumes e maquinários modernos. Os jovens tremem de orgulho ao falarem: _ “Meu avô tem Facebook, vai para baile da 3ª idade e passou as férias fazendo turismo de aventura em Bonito”. E os mais velhos ao se sentirem integrados seguem nessa onda. Eu pessoalmente acho espetacular ouvir histórias de idosos que pulam de bungee jump. Espetacular, mas não correto. Digo que não é correto em última instância por preconceito. Apenas acho que essa adrenalina toda é para quando somos jovens e inconseqüentes e recuperamos bem os ossos quebrados. Eu com certo pesar devo admitir, que seria um pouco demais para mim nos auge dos meus 22 anos brincar de pular elástico. O que, no entanto se fizesse, não me impediria de dar umas boas gargalhadas. Mas veja bem, quando fosse dormir a noite sentiria aquela leve contração no músculo que veio não me deixar esquecer, de que não sou mais criança. Acho que o idoso que pula de bungee jump se diverte, mas no fundo sente os seus efeitos negativos.
Essa é a diferença entre o bom e o correto. Não é preconceito. Simplesmente acho que cada idade possui uma característica mais marcante. A das crianças serem inocentes. Dos jovens serem imprudentes. Dos adultos responsáveis. Dos idosos grandes professores. Contudo, nada impede que os papéis se invertam ou mesclem durante a vida. Afinal, não deixa de ser engraçado ver uma criança perguntar de onde vem os bebês. Ver um adolescente com medo de chamar o primeiro amor para sair. De um adulto se lambuzando com sorvete. E de um idoso ouvindo um som no seu Ipod. Não é o caso de restringir, veja bem. Tudo é possível e passível a partir do momento em que somos seres viventes. Mais acredito na ordem e no fluxo da vida.  Não como impeditivo, mas como orientação.

Por esse motivo a vida junto ao campo me parece mais correta, e, portanto eu sinto que seria mais feliz colhendo meu alimento e interagindo com os animais. Todo aquele verde, aquela sabedoria da lentidão natural, o aprender-fazer do colher, plantar, podar, ordenhar, carpir, semear e ver nascer e morrer e começar tudo novamente. Simplesmente faz sentido demais na minha cabeça.

É uma teoria que sustento, até que alguém apareça com um argumento mais sensato. Definitivamente ela não é a prova de balas. Não posso dizer nem ao menos que é racional. Porque é uma certeza que carrego mais a nível celular, como que emanando dos poros quando eu vejo um pé de aipim saindo da terra marrom e fina. Certeza vinda da força que faço para tirá-lo do pé, descascar e cortar. E sei que não posso estar tão maluca assim por causa do tamanho do sorriso que vejo brotar, dos lábios do meu pai.

domingo, 12 de agosto de 2012

Lourenço Mutarelli


O Natimorto - Lourenço Mutarelli

Lourenço Mutarelli -18 de abril de 1964 -Brasileiro 
(Tinha que ser ariano igual a mim...)

Tenho que começar admitindo a minha resistência aos brasileiros, escritores brasileiros, sabe? Tenho dificuldade com o linguajar nativo. Não só com a linguagem, o problema é que todas as histórias me parecem reais demais, como coisas que posso vivenciar no dia-a-dia, ou experimentar através da música e da TV brasileiras. Não é preconceito de forma alguma, tenho mais de uma dúzia de autores brasileiros na ponta da língua, caso me perguntem sobre bons escritores. O fato é que leio pra fugir, para esquecer, desaparecer, viajar. A literatura nacional não me deixa fazer isso. Mesmo que tratem, por exemplo, do Norte ou do Nordeste, tão distantes espacialmente de mim, ainda é como se falassem de mim, essas regiões me são próximas na essência. Essência de brasileira.
Mas não faz tempo eu aprendi que todos os paradigmas que vivem em mim existem apenas para serem quebrados. E tinha que ser por um paulista, eu sabia que seria assim. Lourenço Mutarelli é o nome daquele que conseguiu com mais destreza enfraquecer meu paradigma.
         Com o lindo livro ‘O Natimorto’. Esse eu não comprei, peguei emprestado, e sabe aquela vontade de não devolver? Porque eu me apego. Não quero comprar um outro novinho em folha, quero justamente esse com que eu já me envolvi. Mas não o roubarei, pois ainda resta um fiozinho de fibra moral nesse ser cleptomaníaco de livros.  
          Voltando ao livro... Se eu tivesse que defini-lo em uma palavra, ela seria: originalidade. Além de escrever muito bem, de forma clara e instigante, o autor é bastante criativo. Ele joga os clichês fora, e cria diálogos levemente nonsenses dos quais eu adoraria participar. É um livro breve com uma história curta, 133 páginas de diálogos inteligentes, sagazes e bem escritos. Não há muitos personagens na história, e nenhum deles tem nome, nem mesmo os protagonistas ( O Agente e A Voz).
A história tem inicio com ele, O Agente buscando a Voz na rodoviária. A Voz é uma cantora lírica e ele...bem....é o seu agente. Ela intenta por intermédio dele ser apresentada ao Maestro, o qual ela espera fazê-la famosa. Os dois acabam se hospedando juntos em um quarto de hotel, trocando conversas surreais. A base da trama gira em torno de um aspecto peculiar: o Agente diz ser capaz de ler a sorte na fotografia dos maços de cigarro, como se essas fossem cartas de tarô. E acaba ficando obcecado nisso. Sem que ela perceba, o Agente envolve a Voz, trazendo-a para sua realidade corroída, traumática, esotérica e em crise.  
Muitos trechos são escritos em formato de poesia, com frases curtas e pausadas, como se para darem o tom da cabeça devaneante do Agente. Como se as cenas e os sentimentos que ele narrasse aos seus olhos fossem poesias, momentos oníricos.

”Ando em círculos.
Paro
em círculos.
Espero
em círculos.
Fumo
em círculos.
Solto fumaça.
A porta
permanece
fechada.” (pág 50)

Adorei as partes em que ele recorre às frases dos maços de cigarro, para gerar uma espécie de pausa chistosa entre os diálogos:

“Permaneço de pé
Fito os padrões do tapete.
Estranhos padrões.
Talvez,
advertências.
E, mesmo cientes de que “Crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando”,
fumamos.” (pág 20)
 

          Através de um noir leve, Mutarelli nos fala do mistério que pode habitar o ser humano. As loucuras e paranóias que podem estar escondidas em pessoas que ao primeiro olhar podem parecer fascinantes. Sabe que se a gente parar para pensar nisso, fica louco, né? Eu só gostaria que o livro fosse um pouco mais longo (somadas as horas de leitura creio não terem passado cinco) sendo assim não tenho muito mais sobre o que discorrer. A leitura em si é que é o agradável, entrar em contato com essa criatividade louca e espirituosa do Mutarelli. Obviamente que não vou contar, mas o final também é surpreendente.
E como promessa é dívida e

“O fumo/furto causa infarto de coração”. O livro será devolvido ao seu respectivo dono.

Vou perguntar quantos quilos ele pesa... (piadinha interna, leia o livro que você entende).


Primeira página do livro


Charles Bukowski 2


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