quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Mulher do Jornal

Porque MULHER é um tópico ou caderno a parte nos jornais, como se as mulheres fossem incapazes de ler um jornal inteiro? E porque os temas desses cadernos são sempre: dieta, beleza, maquiagem, horóscopo, moda e sexo? Parece que ainda estamos nos anos 1950! Talvez ainda precisemos da Simone de Beauvoir reforçando que a mulher não é só casa e bebês no seu “O Segundo Sexo”. 

E as pessoas diriam: “Mas qual o problema de um caderno especial para as mulheres? Isso não demonstra o quão elas são importantes?” E eu digo NÃO! Por uma razão muito simples: porque não existe um caderno equivalente escrito HOMEM. Percebe-se que não existe um tratamento igualitário, apenas uma dupla moral. Para os homens existe o caderno de Esportes, existe o caderno de Automóveis. Ou seja, é como se os assuntos que interessam aos homens fossem sérios o suficiente para serem tratados em cadernos à parte com matérias inteiras e completas. Enquanto o dito caderno da mulher é um miscelânea condensada do que supostamente "deve interessar a mulher”, uma coluna à esquerda com o resumo das novelas, um artigo explicando como disciplinar os filhos à direita, o cantinho do horóscopo e uma página inteira com as tendências de moda, tudo permeado com propagandas mostrando fotos de lindas mulheres vendendo bolsas, sapatos, roupas e maquiagem. Porque a única coisa que pode interessar de verdade as mulheres é ficar linda e comprar (de preferência utilizando o cartão de crédito do marido) não é mesmo, publicitários? 
                        
Isso tudo me tira do sério! Porque ao menos não tem um artigo falando sobre Economia ou a situação climática nesses cadernos? Porque a mensagem subliminar nos diz:” Esse é o mundo dos homens, mulheres não precisam saber disso porque elas são bobas e frágeis e não farão nada de útil com essa informação!”





quinta-feira, 2 de maio de 2013

Como ser Mulher - Caitlin Moran



Divertido. Essa é a melhor palavra para resumir o livro COMO SER MULHER da Caitlin Moran. Sério, ele me rendeu várias gargalhadas explosivas no ônibus, no restaurante, no bar e até no hospital (no finalzinho da leitura peguei dengue). Foi como fazer amor com um palhaço, digamos assim.

Tudo bem que o livro começa a perder força no final – talvez porque aborde aspectos mais complexos, como o aborto e cirurgias plásticas - mas no geral ele se sai muito bem. O que ajuda muito é que a Catlin é desbocada e honesta. Eu não encontrei nenhum livro tão biográfico, sincero e recheado de palavrões desde o Bukowski (mas longe de mim querer comparar). Mesmo assim, admito que muita gente não se sentirá confortável com esse tipo de escrita - porque ela é um tanto crua. Não há espaço para interpretação ou imaginação porque já está tudo ali: claramente escrito e descrito nas despreocupadas palavras de Caitlin.

O mais engraçado é que o estilo de escrita dela é bem parecido com o meu. Certas horas me peguei pensando: “Quem roubou meu caderno de anotações?” Mas como era de se esperar a explicação já estava pronta bem no início, pois o livro começa assim:

Wolverhampton, 5 de abril de 1988

Aqui estou eu, no meu aniversário de treze anos. Correndo dos Deliquentes.
 
“Moleque!”
“Esquisita!”
“Moleque!”

Corro dos Delinqüentes no playground perto de casa. É um playground típico do final da década de oitenta na Inglaterra. Nada de superfícies seguras, design ergonômico, ripas de madeira nos bancos. Tudo é feito de concreto, garrafas de cerveja quebradas e ervas daninhas.

A Caitlin nasceu no mesmo dia que eu. Arianas escrevem assim, exatamente como falam e sem premeditar nada, sem deixar muito espaço para a imaginação do leitor, a gente não dá volta com as palavras: põe logo tudo no papel da maneira que vier, e goste quem gostar.

Bem, para fazer os meus apontamentos vamos primeiro ao que diz a orelha do livro:

Nesta mistura de livro de memórias e manifesto feminista, todas podemos reconhecer coisas que fizemos, pensamos e dissemos – mas nunca de maneira tão eloqüente quanto Caitlin Moran faz aqui. Best-seller absoluto na Inglaterra, COMO SER MULHER é leitura obrigatória não apenas para o suposto sexo frágil, mas para todos os maridos, namorados, irmãos pais, tios, amigos e colegas de trabalho que gostariam de entender um pouquinho melhor o que realmente se passa na cabeça das mulheres

Eu não sei quem são as pessoas responsáveis por escrever essas apresentações. Não sei se elas são pessoas altamente desqualificadas ou apenas detestam ler livros. Porque bem, nunca vi um resumo menos condizente com o conteúdo. E vamos aos porquês:


1) Pra começar esse livro não é um “manifesto feminista”. Até a própria capa diz manifesto “feminino” e não “feminista”. 
Esse livro é como o grito de “Ei, sou mulher e posso me expressar como quiser, pra quem eu quiser, falando sobre coisas de mulher!”. Obviamente, que a Catlin é feminista, e se declara abertamente assim, mas esse livro não é didático ou empoderador para o feminismo, apenas para o feminino. Explico: O feminismo é uma luta, é a busca por igualdade entre os sexos. No dia que não precisarmos mais lutar por isso, o feminismo morrerá (nenhuma feminista ficará triste). No entanto, esse livro é valioso para o feminino, pois trata de questões que concernem a toda mulher, mas que não são discutidas ou levadas a sério, e sim tratadas como “triviais”, “assunto de mulherzinha”. Um bom exemplo, é que enquanto o futebol (a brincadeira Nº1 dos rapazes) é tratado como “paixão nacional”  é quase um crime mencionar  a palavra “menstruação” em voz alta – o que é um aspecto biológico de 52% da população. Aliais vocês já racionalizaram sobre aqueles saquinhos que tem no banheiro para despejarmos nossos absorventes? Esses dias me peguei pensando porque nós meninas somos ensinadas desde novinhas a enrolar nossos absorventes em quantidades astronômicas de papel para que eles não apareçam na lixeira, para que portanto nossos pais e/ou irmãos não tenham que se deparar com o horror do sangue menstrual. Bem, obviamente que a visão de sangue não é agradável, mas quando alguém se machuca ninguém enrola o algodão ensangüentado antes de jogar na lixeira. Ou seja, o problema é o sangue mens-tru-al à mostra. Por isso o livro da Caitlin é empoderador para o feminino, pois precisamos começar a enxergar as tais “coisas de mulher” de modo mais simples e normal. Precisamos poder falar sobre isso sem reservas ou vergonha .

 2) "COMO SER MULHER é leitura obrigatória não apenas para o suposto sexo frágil– é uma péssima frase para ser empregada no resumo desse livro. Por causa de todo o contexto que impregna a obra do começo ao fim, simplesmente não cabe utilizar uma expressão tão batida e pejorativa para se referir as mulheres (mesmo com a palavra “suposto” na frente), eles poderiam simplesmente ter escrito “mulheres” ou “meninas”. Ou seja, eu duvido que quem escreveu isso leu o livro. Ou se leu, não pegou bem o espírito da coisa!


3)  Não acho que esse livro seja leitura obrigatória para os homens. Aliais, não vejo porque qualquer homem deveria lê-lo. A maior parte da graça dele consiste em ser escrito por uma mulher para outras mulheres. As piadas tem graça porque eu ENTENDO o que ela está dizendo, eu COMPARTILHO os sentimentos. Como eu disse, o livro é empoderador para o feminino, não para o masculino. Penso, que se no momento atual um homem comum lesse esse livro, não conseguiria atingir o espírito da coisa. Seria como uma menina ler sobre “ejaculação precoce”, “minha paixão pelos esportes” ou “o nascimento do meu bigode”. Até pode ser legal para matar a curiosidade sobre como é se transformar em homem, mas definitivamente não despertará um sentimento de solidariedade. Não que os homens não devam ler se quiserem, acho que talvez eles compreendam muitos dos nossos dilemas, mas daí a dizer que é “leitura obrigatória” já força a barra.  Aliais, NENHUM livro é leitura obrigatória para ninguém.
 
Bem, não há muito mais o que resenhar. Então eu apresento a vocês os capítulos do livro. Em cada um deles Caitlin faz uma descrição bem humorada e leve das suas experiências e impressões sobre como é se tornar mulher. Enfim, vale lembrar que o livro não é um manual ou resumo, afinal: cada mulher é um ser humano único e inigualável. Assim como os homens também são!

        Prólogo – O pior aniversário de todos os tempos
      01. Começo a sangrar!

      02. Fico peluda!
03. Não sei como chamar meus seios!
04. Sou feminista!
05. Preciso de um sutiã!
06. Sou gorda!
07. Descubro o machismo!
08. Estou apaixonada!
09. Vou a um clube de striptease!
10. Eu me caso!
11. Entro na moda!
12. Por que ter filhos
13. Por que não ter filhos
14. Modelos de comportamento e o que fazer com eles
15. Aborto
16. Intervenção



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