segunda-feira, 10 de março de 2014

Zine XXX: Catástrofe no Catarse

Acabei de por as mãos nos Zines XXX que apoiei através do Catarse!

Uma pena que a realidade não superou as expectativas...

Esperava zines inquisidores, mordazes, politizados, ou ao menos engraçados e não encontrei nada além de um mi-mi-mi burguês individualista. Salvo alguns trabalhos, a maioria das histórias são sem pé-nem-cabeça, um mergulho profundo demais em almas interessantes de menos.

Giovana Medeiros em, Zine XXX - Volume UM 

Em relação à técnica das meninas, não tenho nada a reclamar, a maioria dos desenhos são até bem originais. Mas o conteúdo é que deixou a desejar. Já que essa era uma oportunidade rara, achei que as meninas fossem aproveitar melhor, trabalhando o feminismo de maneira mais plural, ou apresentando o ponto de vista da mulher sobre assuntos diversos, apresentando questões que incomodam a todAs nós. Infelizmente, a maioria das histórias possui um viés muito individualista, auto-centrado, com crises típicas da classe média alta. O que não me surpreendeu nem um pouco após participar do evento de lançamento, dia 18/02, no Comuna em Botafogo. Disso falarei mais abaixo.




Suzana Maria em, Zine XXX - Volume TRÊS

Não penso que só porque os zines foram escritos por mulheres precisavam falar sobre feminismo ou serem obrigatoriamente politizados. Afinal, penso que o que se pretendia com uma iniciativa como essa era justamente dar visibilidade ao trabalho das quadrinistas e subjetivamente proclamar a liberdade dos indivíduos para além dos seus gêneros. Mas, já que quase todas foram unanimes em dar um enfoque nos dilemas e situações típicas do sexo/gênero/identidade feminina, nada mais justo do que fazer a coisa de maneira mais plural.




Amanda Paschoal em, Zine XXX - Volume TRÊS

Se você escreve para um público, tenha ao menos a delicadeza de captar que parte do SEU sentimento é universal e trate de transmiti-lo de maneira que TODOS possam captar. Afinal, um zine não é um blog. Eu de fato escrevo para mim mesma e não tento vender meus textos para ninguém, se vendesse eu deveria ter em conta o ponto de vista do meu leitor. Não estou tentando dizer que elas deveriam produzir PARA o leitor, mas ao menos tendo em conta que EXISTE um leitor para suas histórias. Porque, o que causa espanto é a quantidade tão grande de histórias voltadas para crises pessoais e dilemas existenciais. Ok, se fosse um diário. Ok se fosse a obra de um único autor. Mas em que ponto elas não entenderam que suas histórias comporiam um coletivo? E que esse não era o espaço somente para pensar: “eu, eu, eu”, e sim “nós, nós, nós”. Penso que faltou à elas ponderar: “O que nós, como quadrinistas mulheres, ao ter essa oportunidade, queremos passar para nossos leitores? Queremos abrir seus olhos para quais questões? Qual é a nossa bandeira, o que estamos tentando construir aqui?” Acho que quase nenhuma delas pensou nisso. E ao fazer um retrospecto do evento de lançamento, comecei a vislumbrar o porquê...



Beatriz Lopes em, Zine XXX - Volume TRÊS

respectivamente Stephane Werner e Renata Ditto em, Zine XXX - Volume TRÊS

DIA 18/02: O EVENTO DE LANÇAMENTO NO RIO DE JANEIRO



Joleana
Para começar errado, não foi separado nenhum momento da noite para se demonstrar, explicar ou debater o próprio projeto, que dirá o feminismo, ou quaisquer outras idéias relevantes relacionadas aos zines. Ou seja, se eu fosse uma pessoa que decidiu apoiar o projeto porque achou legal, mas que ainda não tivesse entendido bem a importância da coisa, ia sair de lá com a mesma cabeça que entrei. As pessoas estavam todas separada em guetos, discutindo sobre seus próprios assuntos. Tentei mais de uma vez entabular conversa com alguma delas, mas elas não pareciam muito interessadas em debater nada. De fato, a maior parte das pessoas era bem mal-educada, esbarravam umas nas outras, pisavam no pé e faziam cara feia. As próprias meninas e meninos que estavam na barraca vendendo os Zines não eram nem um pouco simpáticos, e abraçavam-se entre os seus, deixando todo mundo que não fosse 'conhecido' esperando horas para receber os zines pelo qual já tinham  pago antecipadamente. Uma falta de consideração tamanha, uma vez que essas pessoas acreditaram e patrocinaram o projeto. 


respectivamente Manzanna e Anna Grrrl em, Zine XXX - Volume UM 

E olha que eu tentei. Sou uma pessoas que tento mil vezes acreditar na bondade alheia. Prefiro encarar atos de grosseria como uma fenômeno isolado que podem ter justificativas diversas, que não a da falta de educação pura. Mas dessa vez não foi possível. E no fim, eu que tinha levado um amigo, na esperança de que pudesse mostrar à ele como o feminismo é importante saí de lá meio envergonhada. Ao ir embora, pedi desculpas à ele,  que aliviado emitiu um “ufa!”, e me disse que também tinha achado as pessoas rudes demais. O que apenas provou que eu não estava sendo louca, nem implicante.

respectivamente Mariana Sales e Clara Lima em, Zine XXX - Volume TRÊS

Então, quem pagou e ainda não recebeu os Zines pelo correio, recomendo que entre logo em contato. Afinal, eu apoiei o projeto dia 18/11/13, o mesmo foi aprovado em 21/11, e a entrega prevista para janeiro de 2014. No dia 2 de fevereiro elas informaram que haveria um atraso, mas não deram mais nenhum prazo para a entrega. E até hoje dia 10/03, nada de zines... Estranhei tanta demora, e a falta de informação. Mas agora entendo o porquê: simples desleixo e falta de respeito com os patrocinadores. Existiam caixas e mais caixas cheias de Zines no local, então porque (até onde sei) ninguém recebeu seus exemplares pelo correio ainda? Quem teve a chance de pegar o seu no dia do evento, teve o nome anotado à lápis em folhas minúsculas de papel, nem era necessário apresentar RG, já que eles nem tinham uma lista nem nada. Ou seja, se eu desse um nome falso, receberia duas vezes, podendo prejudicar quem tivesse que receber por direito.


Uma pena, que uma iniciativa tão bacana tenha sido levada à cabo de maneira tão descuidada.


respectivamente Jow e Manzanna em, Zine XXX - Volume UM 

Não abala minha fé no Catarse, nem nas quadrinistas mulheres e muito menos no feminismo. Mas abala uma vez mais, a minha fé no ser humano como indivíduo.

Como tenho plena consciência de que não sou o centro do mundo e de que minha visão não é imparcial, se você foi no evento ou leu os zines e tem outro ponto de vista, comente à vontade. Eu ficaria feliz de saber que o projeto serviu positivamente ao menos para um outro alguém.

Além do que tem alguns que eu achei bem bacaninhas, olha aí ó:


UPDATE: Um amigo que entende de quadrinhos mil vezes mais que eu, fez uma ótima resenha sobre os Zines. Bom para quem quiser uma análise mais técnica da coisa:
comicsfromunderground


Natalia Matos em, Zine XXX - Volume UM

Samanta Floor em, Zine XXX - Volume UM (incompleta)



Duda Maria em, Zine XXX - Volume TRÊS

Tailor em, Zine XXX - Volume TRÊS

Tailor em, Zine XXX - Volume TRÊS


FIM

4 comentários:

  1. O Feminino disse um """ufa !!"" pela bagunça que foi essa noite..

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  2. Menina! Arrebentou, escreveu muito bem, que ótimo ler aquilo que sentimos.
    Recebi os Zines infantis e cheio de mimizinhos...ultraaaaaa atrasados.
    Um email muito estranho da tal de Beatriz me contatou, tive que deduzir que seria o esperado projeto, que depois de ler percebi que trata do feminismo branco, classe média medíocre, e ao qual ajudei emplacar. Com o atraso mudei de endereço, atualizei no Catarse, mas foi o mesmo que nada.
    Nunca vi tanta frieza, típica dessa "juventude" que se acha "eterna", "criativa", que odeia pobre e gente de pele escura.
    Nem uma linha de comunicação, vi um povo imbecil contemporizando no FB, e ainda receberam a resposta "mal educada" de um carinha metido, que ninguem ia fugir do país com a fortuna doada.
    Pelo amor, estou passada com a baixa qualidade de indagações nas histórias, nenhum foco filosófico, um feminismo aborrecente burguês, que pouco se lincha ao empoderamento de meninas pobres aliciadas, assassinadas diariamente como um animal em abate.
    Pensei em escrever uma critica, mas sou mãe de uma garota da sua idade, e aqui me resolvo. O propósito era valorizar os quadrinhos de meninas e mulheres. Estou muito irritada, de ter contribuído com a vaidade de quem acha que pêlo na perna, no sovaco e na perereca é o que resolve. Pará tudo.
    Comecem a reflexão pela misoginia, depois o machismo, aí vão ver que o buraco é muito embaixo. Uma causa tão séria se enfraquece quando os questionamentos são apenas externos.
    Concordo com os quadrinhos bons que postou. E se houvesse um canal esse seria meu recado. E como minha filha colocou....protestar com raiva, não vira.
    Obrigada por descrever tão cuidadosamente os furos dessa chatice toda.
    Também não abala minha fé no feminismo e nas mulheres, e por essa causa vivo.
    Beijos
    Milene

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  3. É Milene, eu também fiquei muito chateada por ter colocado meu dinheiro nesse projeto. A sua sorte é que você não teve o desprazer de ir ao evento.

    Fico preocupada com a quantidade de pessoas que podem ter o seu primeiro contato com o feminismo através desse tipo de projeto, e ficar pensando que essa é a nossa luta.
    Me parece que essa nova geração carece de ir mais à fundo nos seus estudos sobre feminismo.Toda essa raiva direcionada ao 'mundo' ou os 'homens', nada mais é do que falta de informação e ignorância. Precisamos entender que os homens são tão presas do machismo quanto nós. E que só poderemos mudar esse panorama através do diálogo, da união e da ação.

    Fico feliz por você ter comentado. Até agora não sabia como estava o status das entregas dos Zines. Pelo que vi no dia do evento, duvidei que alguém fosse receber!

    Abraços,
    Ariana

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  4. Ariana, só recentemente li o Zine, de inicio ia escrever uma critica pesada, mas pensei, melhor, e escrevi mais uma resenha tentando focar apenas os lados bons, segue o link: http://comicsfromunderground.com/2014/07/09/zine-xxx-2/

    Até linkei seu blog no final.

    Bjs.

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