Contratação de motoristas mulheres |
Vi
esse anúncio ontem em um busdoor
(aquele anúncio que colocam no vidro traseiro dos ônibus). E acho que uma régua
de 1 metro seria curta para medir o tamanho do meu sorriso. Não só por perceber
que uma profissão predominantemente masculina começa a deixar de ser, mas
também porque o conteúdo da propaganda acertou em cheio.
Primeiro, ela cita a "independência
financeira" - o que de fato é uma coisa das quais as mulheres realmente
necessitam para se libertar psicologicamente e fisicamente e se desenvolverem
como indivíduos e cidadãs. Em segundo, ela afirma que não é necessário
experiência - o que nos leva a crer que eles realmente desejam contratar
mulheres, pois sendo uma profissão que tem sido ocupada por homens há tanto
tempo, seria meio descabido exigir experiência. E em terceiro e mais importante
o marketing dessa empresa fez questão de desmistificar para TODXS um
preconceito ha muito arraigado em nossa sociedade: o de que as mulheres dirigem
mal. Ao brincar com o famoso ditado “Mulher no volante, perigo constante”,
trocando a palavra “perigo” por “sucesso” ela assume que reconhece o
preconceito e que não dá a mínima para ele. É muito melhor do que se ela simplesmente
tivesse ignorado esse senso comum. Além de inteligente e bem humorado, o slogan não
deixa de ser um tanto subversivo. Mesmo para as mulheres que não desejam ser
motoristas de ônibus ler essa frase assim tão escancarada é um bálsamo. Para os
homens que a lerem, acredito que gerará um choque – que faz muito bem para
pensar. E para o público-alvo da propaganda (as mulheres que desejam se
candidatar à vaga) é a
certeza de que a empresa não se baseia nesse pré-conceito para suas contratações.
certeza de que a empresa não se baseia nesse pré-conceito para suas contratações.
Mas
desconfiada como sou, depois de alguns minutos de pura felicidade me pus a
pensar porque a empresa decidiu-se a contratar mulheres. Porque sabe como é,
nenhum chefão levanta de bom humor um dia e percebe que tem sido um grande
machista todas essas décadas em que se recusou a abrir vagas para mulheres.
Bem, algo ocorreu. São as mulheres que estão fazendo pressão nesse sentido? São
as poucas mulheres já contratadas que estão provando que as mulheres são tão boas ou melhores que os homens nesse cargo? São os sindicatos? É a falta de
mão-de-obra masculina para o cargo? É o feminismo? O que seria então? Bem, eu
não sei o que anda rolando por aí. Só sei que independente do que seja é uma
vitória para o feminismo e para as mulheres em geral. E eu não duvido muito que
daqui a algumas décadas a profissão de motorista seja majoritariamente ocupada
por mulheres. Casos semelhantes já ocorreram antes. Afinal as profissões de
professores, médicos e advogados, por exemplo, já foram quase que exclusivamente ocupadas por
homens - a função de secretária inclusive - foi exercida até o século XX por homens.
E
quer saber? Basta procurar os dados do DETRAN de diversos estados do nosso belo
país e você irá constatar que as motoristAs infringem menos as leis de
trânsito. E antes que alguém venha com aquele embasamento biológico, dizendo
que as mulheres são mais calmas e os homens mais agressivos por natureza etc e
tal eu já digo que discordo. Tanto porque existem mulheres que são péssimas
motoristas: super agressivas e irresponsáveis.
Acredito
que o machismo influencia todo o comportamento social e isso obviamente inclui
a atitude no trânsito. Homens são estimulados a não terem medo, a serem
agressivos e competitivos e as mulheres a serem exatamente o oposto. Por isso você
verá que as infrações mais praticadas pelos homens são aquelas ligadas ao
excesso de velocidade (ausência de medo e/ou competitividade) e direção
alcoolizada (agressividade). O volume de infrações femininas são bem menores
nesses casos. Em matéria para o Zero Hora a psicóloga Aurinez Schmitz,
fundadora do Ande Bem Instituto de Psicologia do Trânsito, aponta que a atitude
mais ajuizada no trânsito por parte das mulheres estaria ligado ao fato delas
enxergarem o carro como um meio de autonomia, e não como um instrumento para
expressar sua competitividade. Portanto, essa diferença de atitudes no trânsito
não tem justificativa biológica, ela é puramente social. E sendo um comportamento
social ele pode se modificar. Não apenas o homem pode deixar de ser tão
agressivo, como a mulher pode tornar a sê-lo.
Queria
deixar claro que não acredito que as mulheres sejam santas no trânsito e que
por isso os volantes devam ser delegados somente à elas. Sim, porque todo mundo
acha que as feministas querem exterminar os homens e fundar uma supremacia
feminina. Não, não. O fato de ser feminista não me faz achar que todas as
mulheres estão corretas no que quer que sejam ou façam. Nós feministas queremos
apenas a desconstrução dos estereótipos de gênero e a conquista da igualdade de
tratamento. Queremos que as pessoas sejam julgadas pelas suas atitudes
independentemente do seu sexo, opção sexual e identificação de gênero. E isso
inclui claramente o acesso ao mercado de trabalho e o direito de guiar o seu
veículo com talento ou sem talento, sem ter que ouvir frases preconceituosas como: "Só faz
m*rda tinha que ser mulher!" ou "Ela dirige tão bem, e olha que é mulher!"
Porque a cada dia que passa estamos dirigindo melhor nossas vidas, estamos cansadas de ocupar apenas o banco do carona. E não importa as curvas da estrada, nós chegaremos lá: nem a frente nem atrás dos homens, apenas emparelhadas à eles. Conduzindo para um mundo melhor.
Porque a cada dia que passa estamos dirigindo melhor nossas vidas, estamos cansadas de ocupar apenas o banco do carona. E não importa as curvas da estrada, nós chegaremos lá: nem a frente nem atrás dos homens, apenas emparelhadas à eles. Conduzindo para um mundo melhor.
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