Se você ainda não sabe, a Prefeitura do Rio de Janeiro inaugurou no dia 26 de fevereiro de 2013 um novo modelo de mictório público. A idéia foi batizada chistosamente de UFA! (Unidade Fornecedora de Alívio). Lá vamos nós fazer aquela análise básica da questão ....partindo das premissas:
1º O esgoto e a
produção de lixo nas cidades está diretamente correlacionada à saúde da
população. Os banheiros públicos nesse contexto configuram-se como uma
necessidade básica para a higiene e o saneamento básico de qualquer cidade
grande, em que o fluxo e o movimento de pessoas é muito intenso.
2º O Rio de
Janeiro é a segunda maior cidade do país economicamente falando e um dos
maiores destinos turísticos do país, com uma população gigantesca para suas
diminutas dimensões territoriais. Os impostos que pagamos aqui são abusivos, e
viver nessa cidade se torna cada dia mais caro.
3º Todos sabemos
que o ser humano tem necessidades fisiológicas. Considerando que a modernidade
exige que passemos a maior parte do tempo em movimento - habitando mais a
cidade do que nossas casas - transfere-se a questão das necessidades
fisiológicas também para o âmbito público.
Portanto, por
mais que esse não seja um assunto atrativo, necessitamos discuti-lo, pois os banheiros
públicos constituem parte do mobiliário urbano. E quanto mais completo se torna
esse mobiliário, melhor é a qualidade de vida da população e a recepção e fruição
dos turistas.
O fato da
Prefeitura começar a pensar sobre isso é ótimo. Mas nós cariocas sabemos que é comum
aqui na cidade maravilhosa, tudo ser concebido de maneira simplista e
descuidada - de forma a cumprir tabela ao invés de atingir o objetivo. A começar pelo
próprio nome do projeto (UFA!- Unidade fornecedora de alívio) subtende-se que o
assunto não é levado à sério. Mictório a céu aberto, sem porta e pia, isso não
pode mesmo ser sério. Gastar R$ 19 mil nessa empreitada, menos ainda. A
desculpa velada que fica bem clara é de que o carioca é um vândalo, não pode
ver nada bonito que estraga, isso fica claro na fala de Marcus Belchior (secretário
municipal de Conservação e Serviços Públicos):
"Escolhemos a Central do Brasil para a fase de
testes, pois há pouca utilização do espaço público. Também poderemos impedir
ações delituosas, já que as pessoas podem ser vistas. A principal dificuldade
relativa a banheiros públicos é a questão da operação. Esse é um modelo que deu
certo na Europa e nos Estados Unidos. Se for bem avaliado, apresentaremos um
projeto executivo para toda a cidade”.
Ao meu ver essa
justificativa é fraca e simplista, pois são vários os casos de ambientes que
por serem bem-construídos e conservados, instigaram a noção de pertencimento do
espaço e, portanto o cuidado por parte da população. Também faz parecer que a
cidade do Rio é tão pobre que não pode investir em um projeto um pouco melhor.
Em terceiro
lugar, podemos inquirir que a unidade de alivio busca “aliviar” apenas a
parcela masculina da população, já que nós mulheres continuamos desguarnecidas
nesse aspecto. Ainda segundo Marcus Belchior esse mérito
se justifica pelo demérito dos homens:
"Banheiros
públicos são uma necessidade da cidade, e
verificamos que nessa história os homens são mais mal educados. – disse ele.
Ou seja, os
homens vão ganhar um banheiro só para eles, porque são muito mal-educados. Mas
peraí, isso não vai justamente de encontro a própria desculpa velada do
Município para não instalar um equipamento mais sofisticado? Então, porque não
implantar banheiros ultra-modernos apenas para as mulheres, já que elas são tão
educadas a ponto de manter os mesmos intactos?
Enfim, vamos
fingir que ninguém sabe que as mulheres não urinam nas ruas por mera
“desvantagem biológica”. Os homens urinam nas ruas porque podem fazer
isso sem expor excessivamente o seu corpo, as mulheres não. Prova disso, é que
são muitos os casos de mulheres que solicitam as amigas que façam “cabaninhas”
ou “bloqueios” com o corpo para poderem urinar na rua sem se sentirem expostas.
Não se trata apenas da falta de educação, por que muitas vezes é uma questão de
extrema necessidade. A verdade é que durante o Carnaval, por exemplo, não existem
banheiros suficientes para a população! Prova disso é que muitos bares e
restaurantes cobram R$1,00 as vezes até R$ 2,00 pela utilização de banheiros (que
as vezes nem estão limpos, é bom lembrar).
Ou seja, nós
mulheres estamos duplamente prejudicadas nesse sentido. Fazer banheiros baratos
para as mulheres se torna mais difícil, então eles excluem metade da população do
projeto e brilhantemente criam o UFA! E eu penso: nossa! É muito fácil ser
inteligente e inovador assim.
E para não
pensarem que falo sem experiência própria vou logo admitindo que sou uma bexiga
solta. E pior: adoro uma cervejinha. Isso torna festividades públicas (como o
Carnaval) em um verdadeiro martírio para mim. Porque, ou eu não bebo (o que me
deixa extremamente contrariada) ou eu bebo e acabo tendo que usar banheiro
químico (que além de imundo tem filas quilométricas) ou contar com a caridade
dos donos de estabelecimentos. Ou seja, todas as opções são deprimentes. E isso
está diretamente ligado a nossa qualidade de vida! Pois urinar nas calças ou
sentir a bexiga quase explodir não pode fazer do Carnaval de ninguém um mar de
alegria. Os homens não entendem essa situação, mas eu tenho certeza que
todas as mulheres sim!
Ou seja, o UFA!
Não só é um conceito mal-idealizado para os homens como inútil para as
mulheres. Continuamos sem solução para a questão dos banheiros públicos... e
enquanto isso na Europa, algo já começa a ser feito nesse sentido. Pela minha
breve pesquisa, a França foi o país que propôs o melhor conceito de banheiro
público, segundo dados dessa matéria aqui
Isso aqui meus caros, é como um banheiro deve parecer. Inclui homens, mulheres e deficientes. Muito inovador, não acham? |
Para manter a cidade
mais limpa e auxiliar os turistas, que muitas vezes tinham que utilizar os
banheiros que são pagos dos grandes centros comerciais, museus. A prefeitura de
Paris implantou mais de 400 banheiros públicos na cidade, em 2009.
Toilettes como o da
foto acima, são de alta tecnologia e muito higiênicos. E ainda são acessíveis
para cadeirantes.
Aí fica a questão,
como um banheiro público, pode ser higiênico? Acima eu falei que eles possuem
uma alta tecnologia e é verdade. Quando o banheiro está ocupado, uma luz
vermelha fica acesa na porta e quando está livre uma luz verde ascende, as
portas são automáticas para auxiliar os cadeirantes e senhores e senhoras de
idade. Após uma pessoa sair do toilette, uma luz azul ascende na porta, é o
estágio de auto-limpeza, onde o banheiro (como o próprio nome diz) se
“auto-limpa”, a pia e o vaso são lavados e ainda são despejadas borrifadas de
perfumes pelo ambiente. A pia e o secador de mãos são automáticos, de forma a economizar
água e papel. [transcrição do site viagemeuropa]
Prefeito, eu preciso desenhar para você entender
melhor?
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