É algo pelo qual jamais imaginei passar: readers block. É quando se fica incapacitado de ler coisa alguma.Você inicia a leitura de um livro e não chega nem na metade. E para uma pessoa como eu, isso é triste, é quase uma tragédia! rs Afinal esse blog existe para celebrar a Literatura! Porque os livros sempre foram parte de quem sou, da minha personalidade. Então porque não consigo mais me conectar com eles? Qual é o problema? Será que apenas não encontrei o livro certo para o momento da minha vida? (Mas santo Deus, eu lia até bula de remédio). Tenho uma leve impressão de que o excesso de internet tem alguma culpa nisso. Sabe como é, muitas horas gastas no facebook, whatsapp, blogs, tumblrs, pinterests e sites variados.
As vantagens de estar conectado todo mundo já conhece. Mas me indago sobre as desvantagens. Porque tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim. Para mim a maior desvantagem do mundo virtual é que ele nos apresenta uma versão curta, abreviada, sucinta e de certa forma preguiçosa das notícias, pessoas, opiniões e sentimentos. E em seguida eu rebato à mim mesma: “Mas Ariana, se é justamente através da internet que passamos a conhecer mais pessoas, lugares, opiniões, etc e tal?! Como você pode negar isso? Você está sendo retrógrada e conservadora.” E eu mesma me respondo: “Calma, Ariana. Não é nada disso. A verdade é que nós somos apresentados a muitas coisas através da internet, então temos a leve sensação de que as estamos experimentando, mas de fato não estamos. O que temos é uma provinha superficial sobre um bilhão de coisas e pessoas, mas não estamos conhecendo profundamente essas coisas e pessoas. Não é de todo mal ter uma “provinha” do mundo, o que faz mal é começar a enxergar o virtual como algo real e vice-versa. Sabe como é: virtualizar a realidade e dar sentido de realidade ao que é virtual.” Fim da digressão.
Antes as pessoas percebiam mais profundamente o mundo ao seu redor simplesmente porque não havia outro mundo com o qual comparar (obviamente, que portanto também eramos mais limitados e mal-informados). Mas, de uma forma ou de outra, as pessoas acabavam construindo suas conclusões a partir de sua própria vivência, sem tantas interferências externas. Hoje, bombardeados com informações por todos os lados, nos tornamos uma miscelânea de opiniões e experiências alheias e me parece ao mesmo tempo que de opiniões e experiências nenhuma. Será que a humanidade se aprimorou de maneira proporcional ao nível de informação que recebeu? Independente da resposta, é impossível negar que é preciso viver a própria vida (no mundo real) e tirar as próprias conclusões a partir do que se experimentou. Tá, gente eu sei que o ser humano continua vivendo, o que quero dizer é: Quanto do seu olhar já não está programado para o que vai encontrar? Quanto da nossa opinião sobre a vida é realmente nossa? O excesso de informação as vezes nos deixa preparados demais para o que vamos encontrar. E isso rouba a nossa margem de percepção pessoal. É como quando você passeia Roma todinha pelo street view, e quando finalmente tem a possibilidade de viajar para lá, já reconhece as ruas como se morasse lá. Cadê a surpresa, cara? (comparação esdrúxula e absurda é comigo mesma).
Além disso, estamos nos tornando multifacetados e bem informados, mas preguiçosos e pouco profundos. Às vezes me pergunto porque certas coisas boas jamais podem andar juntas. Veja bem, antes a galera não tinha a quantidade de informação e capacidade de se comunicar que tem hoje, mas em compensação tinham muito mais vitalidade. Olho para os meus pais e vejo que eles (ainda) esbanjam energia. São mais incansáveis do que eu. Mas a nossa geração-polegar, está muito cansada para: conversar, sair, criar, viajar, (e até) amar intensamente! Não é brincadeira não, tem muito moleque por aí que prefere ficar jogando vídeo-game dentro de casa do que se arriscando a azarar as meninas. As fotos das festas que postamos parecem muito mais divertidas do que as festas em si. A sensação de solidão que tão frequentemente experimentamos não condiz com os 500 amigos no facebook. Então o que está havendo? Viver dar trabalho? Ser feliz cansa? Não, o que cansa é tentar alcançar esse padrão de “felicidade” a que somos expostos. Tentar ser mais bonita, mais feliz, mais rica, mais aventureira do que a coleguinha do lado. Se torna maçante, penoso e frustrante. Então nós fingimos : ) E então tcha-raaamm, bem-vindos à sociedade do simulacro.
E eu me pergunto: o que está acontecendo conosco? Como as relações e os seres humanos vão se desenvolver daqui para a frente? Só para deixar claro que não acredito em distopias à la Aldous Huxley. Não acredito que o mundo está indo para o buraco e aquele blá, blá, blá negativo sobre o futuro e sobre o mal que a tecnologia nos trouxe. Mas fico realmente curiosa em saber como a humanidade vai se safar dessa. Ou não vai. Será que de fato teremos que abrir mão de parte da nossa humanidade para ganharmos outras coisas?
Eu acho que é isso. Esse, dentro outros motivos, explica meu readers block. Também estou me desacostumando com uma visão mais profunda da vida! : ( Tanto fizeram por me inserir na era da informação, que eis me aqui: bloqueada e curtindo meu simulacro! Malditos sejam! Logo eu, que me orgulhava por entoar a irônica frase de Manoel de Barros: “Não sou da informática, sou da invencionática”, agora me encontro não inventando nada, completamente sem criatividade e emoção, vivendo através da tela do pc. Me medindo pela medida dos outros. Em pensar que eu me sentia culpada por viver tão alheia do mundo. O que esses últimos meses de passeio pela Terra me fizeram perceber é que o Universo é muito mais rico dentro da minha própria cabeça.
Então já decidi, farei uma faxina total: desinstalarei o whatsapp e vou dar um tempo das redes sociais em geral. Vou desintoxicar! Já até sei que vai rolar aquela abstinência louca. Mas tenho fé na cura. Esse é um bye-bye povo. Vocês não vão mais me encontrar pelas redes da vida (obviamente vou continuar blogando). Se quiser me achar, procurem-me na rede de casa. Provavelmente estarei deitada nela, lendo um bom livro.
Eu quando tinha uns 14 anos brincava na rua...hoje em dia as crianças brincam no pc sem aquela coisa legal que se tinha antigamente. Internet é boa quando não perdemos o tempo inteiro nela apenas passando páginas e sem criar nada de bom. Vejo as pessoas mais preocupadas em postar algo correndo no face e se aproveita pouco as coisas boas da vida....Você faz o certo em ser aquela pessoa conectada ao mundo real e na rede da casa.
ResponderExcluirbjs
Hoje, os casais jantam com seus celulares no restaurante.
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