Que não sorri com um Drummond
Que não aquiesce frente a um Monet
Que não sublima ao som de Debussy
Que silencia com Rimbaud
E que emudece junto à Ginsberg
Esse tipo de gente não se importa com nada
Com exceção da alta ou queda da Bovespa
É o tipo de gente que se empertiga com,
ocupações em Wall Street
marchas na praia de Copacabana
movimentos de caras pintadas
passeatas ambientalistas
porque eles bloqueiam o trânsito
Porque esse é o tipinho de gente,
Que precisa chegar em casa às 19h30 em ponto
Pra assistir a novela
E chorar com a morte do mocinho
A fome na Etiópia
As mortes na Palestina
os estupros corretivos na África do Sul
o infanticídio na China
a seca do Nordeste
a corrupção em Brasília
o silencio da esposa no quarto ao lado.
não são suficientemente comoventes.
Esse tipo de gente não se emociona com nada,
E por um lado é aceitável
Porque esse mundo é tão cão
Tão bruto
Tão desmedido
Que é fácil sentir raiva
E é tão fácil concordar
E não fazer nada
Porque nada e tudo, parecem nunca funcionar
Coisas e pessoas interrompidas
Eu me salvo através da arte, da arte
de qualquer tipo
da boa ou da ruim
Pois a arte qualquer é menos vazia
Do que a sua ausência
A arte e a fé são receptáculos únicos do significado da vida
Porque justamente não buscam convencimento algum
Elas são o prazer e o nirvana em si
O acesso é gratuito como o pé de manga no quintal.
Mas sempre existirá gente que não se comove com porra nenhuma
E eu não me comovo por eles
Sentados nas suas confortavéis poltronas
Com sua imitação de Picasso pendurada na parede
Sentindo que de alguma forma se identificam
Com o distorcido na tela
Sem entender bem o porquê
E sem saco para racionalizar sobre isso
Porque logo-logo o vilão vai aparecer
Para matar o mocinho
Esse é momento em que seu coração late
Vivendo a vida dos outros
Vida medíocre de Manoel Carlos
Sigo com,
Manoel de Barros
E é bom o suficiente para mim.
Esse é perfeito! Assim como aquele poema do "você é o ar".
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