Meu Deus! Como resenhar um livro do Gide?
É quase impossível fazer isso sem bajular. Ele é simplesmente espetacular. É o tipo de autor que nasceu para a escrita, que nasceu com o dom.
"Saber se libertar não é nada... mais difícil é aprender a viver em liberdade"
Nesse livro o tema é a busca pela felicidade. Através do olhar do personagem Miguel, que no início da história casa-se com Marcelina e juntos começam a correr a Europa. Pouco tempo depois ele se descobre doente, e essa proximidade com a morte faz despertar um novo homem, talvez um pouco mais egoísta, mas completamente focado em atingir a felicidade. Não de uma forma comum, a felicidade que o personagem busca é aquela vinculada à liberdade total: moral, física, psicológica, social...
"Miguel, voyeur de sua própria memória, renuncia a vida anterior, ajuda aqueles que o furtam, dispõe sua propriedade a venda e une-se a Marcelina, para satisfazer a vontade do pai moribundo, que de esposa, torna-se enfermeira. Arrependido, procura assumir seus encargos como marido, mas a tentação de liberdade é mais forte. Seu caminho passa a ser o de destruir, nunca o de usar a liberdade." Fonte: PCO.org
Essa postura é uma tentativa deliberada de ir contra o senso comum ou é um desejo pueril que insiste em atraír-se pelo que é errado? Penso que a postura do personagem talvez seja um reflexo das suas tendência homossexuais (o que fica levemente subtendido na trama). Talvez a culpa fizesse com que ele deseja-se se libertar ou então desgarrar-se de uma vez com os padrões morais (precisamos lembrar que essa história foi escrita em 1902).
Imagem: anitanoalfarrabista.blogspot.com.br/ |
Essa postura é uma tentativa deliberada de ir contra o senso comum ou é um desejo pueril que insiste em atraír-se pelo que é errado? Penso que a postura do personagem talvez seja um reflexo das suas tendência homossexuais (o que fica levemente subtendido na trama). Talvez a culpa fizesse com que ele deseja-se se libertar ou então desgarrar-se de uma vez com os padrões morais (precisamos lembrar que essa história foi escrita em 1902).
Depois de um tempo Miguel e Marcelina decidem se assentar na fazenda da família, e esse contato com a natureza, simplesmente encanta Miguel. Quando eles precisam voltar à cidade, transcorrem alguns dos trechos mais interessantes do livro, na minha opinião. Miguel começa a narrar a sua ojeriza pelas pessoas comuns, pelo senso comum, pelo status quo. Ter que ficar entre tantas pessoas, falando de coisas banais, tentando impressionar, ser amável e simpático - mesmo quando já se está de saco cheio delas simplesmente enerva o cara. Como me identificar mais? Chega uma hora em que ele rompe com essa realidade e cai novamente na estrada com sua esposa. E obviamente toda essa mudança cobrará um preço alto de ambos no final da trama.
O mais interessante é que ele começa a menosprezar a própria fortuna, como se a riqueza fosse um impedimento à obtenção da felicidade. Um sentimento com o qual eu super me identifico. E antes que qualquer um comece a achar que eu ou o Gide somos malucos, leia o livro. Ele consegue exprimir isso muito melhor que eu. Mas tem algo a ver com o fato de que as coisas mais prazerosas são gratuitas (no sentido de que não se pode valorá-las) embora para desfrutá-las obviamente tenha que se ter dinheiro. Acompanha comigo: sexo, comer, dormir, conversar com os amigos, abraçar alguém que se ama, ir à praia.... Não é possível colocar um preço nessas coisas, e nem se pode comprá-las em alguma loja. Mas ao mesmo tempo não podemos desfrutá-las se não tivermos o mínimo de dinheiro para nos sustentarmos. Esse conflito fica claro na história de Gide. O personagem deixa claro que ao mesmo tempo que deseja esbanjar sua fortuna, também precisa dela para sustentar seu estilo de vida e sua mulher.
O final do livro é um tanto impactante, você fica com aquele alerta apitando na cabeça, tipo: Meu Deus, isso é a vida, são como as coisas acontecem!
Pelo que consegui ler no prefácio do livro, a história é um tanto biográfica, parece que certos aspectos da vida do autor estão embutidas na história, mas não tudo.
André Gide, seu gatinho! |